terça-feira, 24 de outubro de 2017

Quando eu era menino...



Quando eu era menino eu ouvi dizer que havia o céu, o inferno e o purgatório. O primeiro seria para os bons, o segundo para os maus e o terceiro para purificar os intermediários a fim de levá-los ao paraíso. Hoje eu descobri que o purgatório existe realmente e é aqui. E que ele serve para nos dar um norte, para que escolhamos uma direção a seguir, céu ou inferno. Já aqui e além, depois. Por vezes, provamos sabores de céu ou de inferno enquanto vamos atravessando o purgatório terreno a fim de expurgar a vaidade e expiar as culpas. A realização de sonhos é sabor de céu. Nosso purgatório terreno se mostra quando percebemos o vazio que existe entre nós, pessoas nas multidões; quando perdemos as pessoas que amamos para a morte (e são tantas as maneiras de perdê-las) sem saber para onde estão indo; quando sofremos a dor de quem amamos, do filho doente ou rebelde, ou simplesmente infeliz diante da nossa ridícula impotência; Basta uma saudade momentânea para nos encher a alma de purgatório. Também sentimos gosto amargo de purgatório quando somos enganados, humilhados ou injustiçados pelo nosso semelhante, que é aquele que sente a mesma dor de barriga que a gente e que morre do mesmo jeito. Assim cada um vai construindo sua trilha própria, para o céu ou inferno. O purgatório não é destino, é mera passagem.

Alberto Magalhães