Quando eu era menino eu ouvi
dizer que havia o céu, o inferno e o purgatório. O primeiro seria para os bons,
o segundo para os maus e o terceiro para purificar os intermediários a fim de
levá-los ao paraíso. Hoje eu descobri que o purgatório existe realmente e é
aqui. E que ele serve para nos dar um norte, para que escolhamos uma direção a
seguir, céu ou inferno. Já aqui e além, depois. Por vezes, provamos sabores de
céu ou de inferno enquanto vamos atravessando o purgatório terreno a fim de
expurgar a vaidade e expiar as culpas. A realização de sonhos é sabor de céu. Nosso purgatório terreno se mostra quando
percebemos o vazio que existe entre nós, pessoas nas multidões; quando perdemos
as pessoas que amamos para a morte (e são tantas as maneiras de perdê-las) sem
saber para onde estão indo; quando sofremos a dor de quem
amamos, do filho doente ou rebelde, ou simplesmente infeliz diante da nossa ridícula
impotência; Basta uma saudade momentânea para nos encher a alma de purgatório.
Também sentimos gosto amargo de purgatório quando somos enganados, humilhados ou
injustiçados pelo nosso semelhante, que é aquele que sente a mesma dor de barriga
que a gente e que morre do mesmo jeito. Assim cada um vai construindo sua
trilha própria, para o céu ou inferno. O purgatório não é destino, é mera
passagem.
Alberto Magalhães
Alberto Magalhães